quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Porque alguém se daria ao trabalho de fazer um blog sobre um camping, sem ganhar nada por isso? Não uma, mas duas pessoas?

É com completa sinceridade que digo, existem poucos lugares no mundo como o Novo Horizonte. Não que eu conheça o mundo inteiro, porque não conheço, e tudo bem, o vale do Capão é praticamente todo lindíssimo, mas ali há algo mais. Localizado entre duas gigantescas formações de rocha e terra(ou serros), próximo ao início da famosa trilha do vale do Paty, aquele ponto parece ter sido escolhido a dedo com o único propósito de se contemplar a perfeição e grandiosidade da natureza. Se chove pesado, inúmeras cachoeiras se formam pelos serros, nos presenteando com espetáculos dignos de um parque jurássico; se faz sol, o reflexo da luz nas montanhas imensas nos deixa abismados; e a todo momento pássaros de todas as espécies e cores cruzam o ar, cuidando de seus afazeres pouco se importando com a nossa presença. Tudo isso em meio a uma agrofloresta que mescla espécies nativas e exóticas, plantada intuitivamente pelas mãos de Seu Adaílton, no decorrer de vinte anos. Se existe um lugar feito para se desfrutar de paz e tranquilidade, e se contemplar a natureza em todo seu esplendor, é aquele

Descobri o Novo Horizonte através do blog do Leonardo (http://campingquiosquehorizonte.blogspot.com.br/) depois de uma longa e obsessiva procura. Veja bem, quando se é jovem pouco importa em qual camping ficar, de preferência o mais louco e agitado possível. E mais barato também. Mas, no decorrer dos anos, a experiência de acampar sofre uma “ligeira” mudança. Nos primeiros anos acampar é como ir a uma grande festa estilo woodstock(isso no contexto brasileiro), a forma que nossos jovens encontraram de vivenciar um pouco daquele sentimento de liberdade, de estar em meio a natureza e sem regras. O que meio que se adequa perfeitamente com a energia da juventude. Mas com o passar do tempo, as noites mal dormidas, a cantoria incessante, o excesso de todo tipo de substancias vão se tornando cada vez menos atrativas, até que eventualmente as pessoas aposentam suas barracas e ficam somente as lembranças(difusas) daqueles dias de woodstock. Mas, para aqueles que desconfiam que acampar é muito mais que isso, aqueles que persistem com essa idéia “louca” de fugir do concreto e imergir na natureza, esses são recompensados com novos encantos, encantos que sempre estiveram ali mas passaram despercebidos em meio ao excitamento dos primeiros anos. O barulho do vento ao bater nas folhas, o som do canto dos pássaros ao amanhecer, o minucioso ritual de se preparar uma fogueira e o prazer de se observar a dança hipnotizante do fogo,  a doçura de se dedilhar notas no violão no final da tarde, o encantamento do anoitecer nos presenteando com o esplendor do firmamento. Claro que essa é uma imagem ideal, as vezes o céu está nublado e sem estrelas, as vezes o vento ruge como se estivesse bravo com tudo e todos, caem tempestades, mas até nisso há beleza, pois se percebe que tudo está sempre mudando, que assim é a natureza e assim somos nós. E acampar para mim se tornou isso.

Mas, voltando ao ponto, quando decidi partir para o Vale do Capão, sabia que tinha que encontrar um lugar assim. Existem várias opções de camping e pousadas muito bons em todo o vale, para todos os gostos e bolsos, mas todos mais ou menos próximos ao centro da vila. Estava procurando algo diferente, algo um pouco mais distante, que me permitisse um contato mais calmo e próximo da natureza. Depois de muito procurar, encontrei o blog do Leonardo(do qual comentei anteriormente) que descrevia esse camping,o Novo Horizonte, que de acordo com ele era diferente, estando um pouco distante(cerca de 3km do centro), e ideal para aqueles que buscavam maior tranquilidade. Decidi, depois de mais algumas horas de pesquisa, que seria lá meu destino.   

Chegando no vale do Capão, todos os viajantes descem no centro da vila, em frente ao mercado Flamboyant. Com bagagens para  passar um mês, somente um guerreiro extremamente bem preparado poderia fazer o percurso até o Novo Horizonte a pé. Por isso, engoli meu orgulho semi-hippye e resolvi pegar um moto táxi. O que acabou sendo a melhor coisa, pois o rapaz que me levou até lá era enteado do Seu Adailton(não confundir com Seu Dai, dono de outro camping e irmão de Seu Adailton) e, logo depois de me deixar no camping, ligou para Seu Adailton para que ele viesse me receber. Depois de alguns minutos, chegou Seu Adailton, conversamos um pouco e combinamos um preço para uma estadia inicial de 10 dias. O valor da diária por pessoa nas barracas é de 15 reais, mas o valor é negociável dependendo do número de dias. Então, depois da agitação da chegada, comecei a armar a barraca e observar o lugar onde estava. E que lugar! Me vi sorrindo sozinho, abobalhado com a paisagem, e abismado com minha sorte de ter encontrado aquele lugar. Um lugar lindíssimo, além das minhas expectativas, uma estrutura ótima, tudo limpo e organizado, banheiros excelentes, geladeira, dois fogões, todo tipo de panelas, liquidificador, área para fogueira com lenha já cortada. Já fiquei em um número razoável de campings, e aquele superava todos, tanto pela estrutura, quanto pela beleza da natureza que o rodeava. E isso tornava ainda mais intrigante o fato de haver somente eu em todo o camping, e nas 4 semanas que lá fiquei(isso mesmo, os 10 dias se tornaram um mês), não mais de 12 pessoas passaram pelo camping. 

O camping Novo Horizonte, fundado há cerca de vinte anos atrás, talvez seja o primeiro camping organizado do vale do Capão. E, ironicamente, talvez o menos visitado. Durante uma das minhas muitas conversas com Seu Adailton, descobri que o camping era o mais visitado no início, mas com o crescimento do turismo foram surgindo mais e mais campings próximos do centro e as pessoas acabaram optando por eles. Hoje, a grande maioria que vai ao Capão nem chega a saber da existência desse lugar deslumbrante, devido ao seu afastamento e pouca divulgação.Os visitantes que lá chegam ou vão por indicação, ou por já terem ido antes, ou pelo blog do Leonardo(meu caso), ou por puro acaso(raríssimo). E, não que eu quisesse ver o camping lotado de pessoas, até porque nem é essa a proposta de Seu Adaílton. Ele é evangélico, mas sem radicalismos ou preconceitos, e faz questão de frisar que ali é um lugar de paz e tranquilidade, explica logo no início que ali não se permitem barulhos que incomodem (como sons altos de carro), que depois das 10 da noite deve se fazer silencio(para não incomodar aqueles que querem se recolher mais cedo), e que todos devem zelar pela cozinha, mantendo-a limpa e organizada. Basicamente, se existe alguma regra no Novo Horizonte, e a de manter a paz, tranquilidade e respeito pelo espaço e pelos outros. O que pra mim parecem regras bem sensatas. Mas, voltando ao ponto anterior, não que eu quisesse ver o camping lotado, não é essa a idéia, mas me parece injusto um lugar tao bonito e tao bem cuidado(o zelo de Seu Adailton é impressionante), ficar assim, um tanto esquecido. Injusto para com as pessoas, que não são todas, mas sei que existem várias que apreciariam assim como eu a beleza e energia daquele lugar, e injusto para com Seu Adailton, que cuida com extremo carinho e atenção do camping e não tem o retorno merecido. Por esse motivo resolvi escrever esse blog, para que mais pessoas se interessassem por esse lugar lindo, e desfrutarem, assim como eu, das coisas boas que ele tem a oferecer.

Agora, a parte prática. O camping possue uma ampla estrutura para armar barracas, 3 banheiros coletivos, duas duchas, abrigo com cozinha toda equipada, tanque para lavar roupas, área para fogueiras e vários bancos e mesas de pedra espalhados entre as árvores. É possível receber trailers, checando com antecedencia a viabilidade com Seu Adailton. Existe uma estrada de terra larga que dá acesso ao camping(todo dia ônibus de pequeno e médio porte fazem o trajeto de lá até o centro da vila e daí para localidades próximas), sendo perfeitamente acessível. Lembrando que Seu Adaílton também trabalha com fretes, fazendo transportes para o centro da vila e para outras localidades mediante preço acordado. Há um mercado a menos de 100 metros do camping, com vários produtos e com um preço bastante justo, e um carro de frutas e legumes que passa 3 vezes por semana na mesma rua(perguntar dias e horários). O valor das barracas, por pessoa, é de 15 reais a diária, valor negociável de acordo com o número de dias da estadia. Existem também os quiosques, como o próprio nome do camping anuncia. São 4 casinhas extremamente charmosas, para casais e aqueles que buscam um pouco mais de conforto. Os valores variam de 50 reais a diária, para a mais simples, até 100 reais, para a mais sofisticada, com banheiro privado. Esse valor não é por pessoa, é o valor integral do quiosque. Na baixa estação, Seu Adailton está aberto a negociar esse valores, para aqueles que como eu querem passar mais tempo, e até mesmo alugar. Mas tudo depende do período e do movimento. 

Sobre a comunicação com Seu Adailton, existe o numero 075 33441065, que continua o mesmo. Mas deve se levar em conta que não há sinal convencional de celular no Vale do Capão, ele utiliza um celular rural que em alguns momentos pode apresentar falhas(como no final de novembro do ano passado, quando estive lá). Mas Seu Adailton tem acesso a internet e sua esposa, Jacira Bastos, checa os emails diariamente. Seu endereço é: bastosanga@yahoo.com.br.
Para chegar ao camping, pode se informar com a população local perguntando diretamente pelo camping Novo Horizonte, ou perguntar pela Rua do Lagedo, que é onde fica o camping. De qualquer jeito, todos lá conhecem e não será difícil encontrar. Então é isso, espero ter ajudado, e uma ótima estadia a todos.